segunda-feira, 27 de abril de 2015

Caminhada: um evento que faz bem a qualquer um

Olá, tudo bem?
Na última semana, o venezuelano Maickel Melamed virou notícia ao completar a Maratona de Boston 20 horas depois da largada. Melamed sofre de distrofia muscular.
Maior patologista neuromuscular do Brasil, Beny Schmidt comenta até que ponto um desgaste físico tão grande é benéfico para uma pessoa com esta deficiência e a partir de que momento ele pode ser tornar prejudicial. Será que o exemplo do venezuelano deve servir de modelo para outros pacientes com distrofia muscular?

O deficiente e seus limites
Beny Schmidt *

Vou dar a minha opinião como portador de deficiência que sou: acho extremamente louvável um ser humano com qualquer deficiência física ter raça, vontade e lutar para manter a melhor qualidade de vida possível. Eu, por exemplo, costumo caminhar 25 quilômetros, em média, e correr, dia sim, dia não, entre cinco e oito quilômetros, na rua ou na esteira.

Porém, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Por mais sensacional e emocionante e por mais que sensibilize a opinião pública, não é benéfico à saúde dos portadores de distrofia muscular realizar provas de alto rendimento e/ou extenuantes.

Isso porque os prejuízos e malefícios são muito maiores que os benefícios, neste caso. Na verdade, com muita dor no coração, como professor de Medicina, tenho que me manifestar publicamente no sentido de que o ato é um gesto de ignorância que não deve ser imitado por outros portadores de distrofia muscular.

De qualquer maneira, parabenizo este jovem adulto pelo feito, mas que seu gesto não seja imitado por outros. Pelo menos até o dia de hoje, Quem sabe num futuro próximo, com as terapêuticas modernas (terapia gênica) possamos realmente curtir e vibrar com um ex-portador de distrofia muscular que participou, e talvez venceu, uma competição importante.


* Beny Schmidt é chefe e fundador do Laboratório de Patologia Neuromuscular e professor adjunto de Patologia Cirúrgica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ele e sua equipe são responsáveis pelo maior acervo de doenças musculares do mundo, com mais de doze mil biópsias realizadas, e ajudou a localizar, dentro da célula muscular, a proteína indispensável para o bom funcionamento do músculo esquelético - a distrofina.
Beny Schmidt possui larga experiência na área de medicina esportiva, na qual já realizou consultorias para a liberação de jogadores no futebol profissional e atletas olímpicos. Foi um dos criadores do primeiro Centro Científico Esportivo do Brasil, atual Reffis, do São Paulo Futebol Clube, e do CECAP (Centro Esportivo Clube Atlético Paulistano).
Seu pai, Benjamin José Schmidt, foi o responsável por  introduzir no Brasil o teste do pezinho.

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